novembro 29, 2010

Outro mendigo

Como um cão me esgueiro
para comer; escondo
a comida dos outros
e também das gaivotas;
olho de esguelha, furtivo
e como com as mãos;
não tenho ilusão nem
alegria tão pouco
tristeza. Dividido
em várias partes sentado
de costas para o mar
sacio o corpo o que posso.
Pesados são os dias
escavadores de rugas.

novembro 19, 2010

Uma espuma amarela
de restos de rostos
vasilhas vazias
esqueletos de árvores
membros decepados
latas de óleo sobras
do tempo dos pic-nics
as habituais botas
plásticos pneus
dejectos de gente
um batel inteiro
e outros fragmentos
da cidade escarra
contra costa o mar.

novembro 18, 2010

Não tenho má memória:
deuses, ou lá o que é,
divertem-se a rasurar
baralhar biografias
e sonhos é sabido.
Se devo não recordo
e vivo com passados
que não parecem meus.
Talvez haja fissuras
nos sonhos serventias
comuns comunicantes
por onde se derramam
percursos e misturam
nos dias. Todavia

novembro 08, 2010

Caçadores de poentes

de câmara em riste

buscam o melhor ângulo

para disparar.

Entre versos e vinho

mulheres viram vultos:

seu balanço suave

repercute as ondas.

Gestos escurecendo

brasas de cigarros

e sobre tudo esse glabro

candelabro. A noite

e o naufrágio é teu fim

e de todas as écfrases.