skip to main |
skip to sidebar
Como um cão me esgueiro
para comer; escondo
a comida dos outros
e também das gaivotas;
olho de esguelha, furtivo
e como com as mãos;
não tenho ilusão nem
alegria tão pouco
tristeza. Dividido
em várias partes sentado
de costas para o mar
sacio o corpo o que posso.
Pesados são os dias
escavadores de rugas.
Uma espuma amarela
de restos de rostos
vasilhas vazias
esqueletos de árvores
membros decepados
latas de óleo sobras
do tempo dos pic-nics
as habituais botas
plásticos pneus
dejectos de gente
um batel inteiro
e outros fragmentos
da cidade escarra
contra costa o mar.
Não tenho má memória:
deuses, ou lá o que é,
divertem-se a rasurar
baralhar biografias
e sonhos é sabido.
Se devo não recordo
e vivo com passados
que não parecem meus.
Talvez haja fissuras
nos sonhos serventias
comuns comunicantes
por onde se derramam
percursos e misturam
nos dias. Todavia
O caçador de poentes
de câmara em riste
procura o melhor ângulo
para disparar.
Entre vozes e vinhos
mulheres viram vultos:
seu balanço suave
repercute as ondas.
Gestos escurecendo
brasas de cigarros
e sobre tudo esse glabro
candelabro. A noite
e o naufrágio é teu fim
e de todas as écfrases.