abril 16, 2011

Não há euforia

no trabalho da arte

somente uma longa

paciência

Mas a vida é breve

como bem sabem

os que têm mais de

trinta anos

E não vale a pena

descer aos infernos

nas imagens nos sons

nas substâncias

a apressar o negro

o branco e o vermelho.

abril 13, 2011

Ah! o equilíbrio correcto
das rectas o redondo
repouso das elipses
e das hipérboles e
em geral das formas puras
que realizam a matéria
no olhar mas não resolvem
o real, querias! Pródigos
que as simetrias mais
amais que a vida, esta
que contém o que há
para amar: Deus
vos seja avaro em júbilo
e perdulário em penas.

abril 12, 2011

Um mendigo

Dos dias aguçados
que se perdem dentro
destas palavras-letras
os açoites são
não para ostentar
mas para mostrar
como quem abre
cuidadosamente
a camisa e aponta
a chaga no peito
não cicatrizada
e espera que lhe digam
está quase curada
não te preocupes.

novembro 29, 2010

Outro mendigo

Como um cão me esgueiro
para comer; escondo
a comida dos outros
e também das gaivotas;
olho de esguelha, furtivo
e como com as mãos;
não tenho ilusão nem
alegria tão pouco
tristeza. Dividido
em várias partes sentado
de costas para o mar
sacio o corpo o que posso.
Pesados são os dias
escavadores de rugas.

novembro 19, 2010

Uma espuma amarela
de restos de rostos
vasilhas vazias
esqueletos de árvores
membros decepados
latas de óleo sobras
do tempo dos pic-nics
as habituais botas
plásticos pneus
dejectos de gente
um batel inteiro
e outros fragmentos
da cidade escarra
contra costa o mar.

novembro 18, 2010

Não tenho má memória:
deuses, ou lá o que é,
divertem-se a rasurar
baralhar biografias
e sonhos é sabido.
Se devo não recordo
e vivo com passados
que não parecem meus.
Talvez haja fissuras
nos sonhos serventias
comuns comunicantes
por onde se derramam
percursos e misturam
nos dias. Todavia

novembro 08, 2010

Caçadores de poentes

de câmara em riste

buscam o melhor ângulo

para disparar.

Entre versos e vinho

mulheres viram vultos:

seu balanço suave

repercute as ondas.

Gestos escurecendo

brasas de cigarros

e sobre tudo esse glabro

candelabro. A noite

e o naufrágio é teu fim

e de todas as écfrases.