skip to main |
skip to sidebar
Não há
euforia
no
trabalho da arte
somente
uma longa
paciência
Mas a
vida é breve
como bem
sabem
os que
têm mais de
trinta anos
E então vale a pena
descer
aos infernos
nas
imagens nos sons
nas
substâncias
p'ra
apressar o negro
o branco
e o vermelho.
Ah! o equilíbrio correcto
das rectas o redondo
repouso das elipses
e das hipérboles e
em geral das formas puras
que realizam a matéria
no olhar mas não resolvem
o real, querias! Pródigos
que as simetrias mais
amais que a vida, esta
que contém o que há
para amar: Deus
vos seja avaro em júbilo
e perdulário em penas.
Dos dias aguçados
que se perdem fora
destas palavras-letras
os açoites são
não para ostentar
mas para mostrar
como quem abre
cuidadosamente
a camisa e aponta
a chaga no peito
não cicatrizada
e espera que lhe digam
está quase curada
não te preocupes.
Como um cão me esgueiro
para comer; escondo
a comida dos outros
e também das gaivotas;
olho de esguelha, furtivo
e como com as mãos;
não tenho ilusão nem
alegria tão pouco
tristeza. Dividido
em várias partes sentado
de costas para o mar
sacio o corpo o que posso.
Pesados são os dias
escavadores de rugas.
Uma espuma amarela
de restos de rostos
vasilhas vazias
esqueletos de árvores
membros decepados
latas de óleo sobras
do tempo dos pic-nics
as habituais botas
plásticos pneus
dejectos de gente
um batel inteiro
e outros fragmentos
da cidade escarra
contra costa o mar.
Não tenho má memória:
deuses, ou lá o que é,
divertem-se a rasurar
baralhar biografias
e sonhos é sabido.
Se devo não recordo
e vivo com passados
que não parecem meus.
Talvez haja fissuras
nos sonhos serventias
comuns comunicantes
por onde se derramam
percursos e misturam
nos dias. Todavia
Caçadores de poentes
de câmara em riste
buscam o melhor ângulo
para disparar.
Entre versos e vinho
mulheres viram vultos:
seu balanço suave
repercute as ondas.
Gestos escurecendo
brasas de cigarros
e sobre tudo esse glabro
candelabro. A noite
e o naufrágio é teu fim
e de todas as écfrases.